sábado, 30 de novembro de 2013

inferno de dante - o sexto fosso do círculo oitavo

Para finalizar o tema do Inferno dantesco falta falar do sexto fosso do círculo oitavo. Onde eu mais me identifiquei.

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Como dito anteriormente, o sexto fosso do círculo oitavo é destinado aos hipócritas.

Como nos outros sítios, o sexto fosso é povoado por gente importante e famosa da época. Gente que usou e abusou da hipocrisia para alcançar Fama, Glória e Poder.

Mas não nos iludamos. A hipocrisia não é privilégio das altas esferas. Ela também (e como!) grassa entre nós, reles mortais. Sabe aquela maledicênciazinha inconsequente? tipo fofoca? apontar os defeitos do melhor amigo para o segundo melhor amigo, sem que o primeiro melhor amigo saiba? utilizar-se de um discurso e comportamento legal, compreensivo, contemporizador, mas no fundo desejando que o circo pegue fogo? manipular sentimentos alheios? Como no ditado: usar 2 pesos e 2 medidas em benefício próprio? Ou, no popular: dar uma de santinho, de bom moço (ou moça) só para se dar bem na fita?

Pois isso é pecado. Dos graves. Isso é hipocrisia.

Se você, Leitor(a), se enquadra em um ou mais dos exemplos acima e não se arrepender - o nosso destino será o sexto fosso do oitavo círculo. Estaremos condenados a vestir por toda a eternidade uma linda capa dourada com capuz - cujo forro de chumbo pesará toneladas e tornará qualquer movimento ou deslocamento nosso um verdadeiro suplício.

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A imagem usada por Dante para a expiação dos pecados dos hipócritas é das mais sutis em sua tragicidade. Ali não há as óbvias lacerações de tridentes dos capetas, chuva de fogo, caldeiras de piche ardente, serpentes peçonhentas, cães ou diabos estraçalhando a carne. Só a lentidão, o peso dos movimentos. Por toda a eternidade

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À primeira vista o personagem Dante não compreende o martírio. A visão da multidão de almas cobertas de elegantes mantos dourados andando muito lentamente, devido ao peso do chumbo, compunge (mais uma vez) o poeta:

Gente encontramos, fúlgida, dourada,
a desfilar em torno, lentamente
mostrando a face triste e macerada.

Capas trajava, de capuz à frente
dos olhos, (...)
(...)

Ah, manto eterno, fatigante e rico!

(Conforme a nota explicativa do tradutor, Cristiano Martins: O manto que revestia os hipócritas era eterno, porque eterno é o castigo do Inferno; fatigante, porque seu peso deixava extenuados os seus portadores; e rico, porque, dourado externamente, parecia de ouro).

Dante ainda duvida do suplício. Mas prosseguem os versos, para deixar indubitável o sofrimento:

Mas vós, quem sois, que aos olhos vos estila
o pranto, na aflição desesperada?
E que castigo é o vosso, que cintila?

E um deles: Esta túnica dourada,
de chumbo que é, pesou-nos tanto às vezes
que fez ranger, pendente, a nossa ossada.

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A hipocrisia, talvez seja o pecado mais acessível, mais genérico a nós, mortais. Talvez seja o que tenhamos mais consciência e ao mesmo tempo maior dificuldade em nos livrarmos.

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Vejamos o que o velho Caldas Aulete impresso tem a dizer sobre:

Hipocrisia. s. f. vício pelo qual se manifesta uma piedade, virtude ou sentimento que se não tem; afetação de qualidades que se não possuem; fingimento, falsidade. 

O Dicionário Priberam virtual é mais liberal. Hipocrisia vem do grego Hupokrísia, que significa desempenho de um papel. Depois segue o convencional: fingimento de bondade de ideias ou opiniões apreciáveis; devoção fingida.
Fingimento de bondade de .ideias ou de opiniões apreciáveis.

2. Devoção fingida.

"hipocrisia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/hipocrisia [consultado em 30-11-2013].

hi·po·cri·si·a
(grego hupokrisía, -as, desempenho de um papel)

"hipocrisia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/hipocrisia [consultado em 30-11-2013].
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Quem de vós, Leitor, por exemplo, elogiou fingida, desabrida ou educadamente a estreia sofrível de uma atriz amiga (com segundas sedutoras intenções); ou um pintor bonitinho mas ordinário em sua primeira exposição; ou um jantar mal temperado mas oferecido por alguém influente que lhe promoverá no trabalho, uma roupa, uma maquiagem desconjuntada do(a) acompanhante, um texto confuso e repleto de incorreções gramaticais - só para se eximir da crítica honesta, só por interesse próprio, ou para evitar ser colocado em uma berlinda ou incômodo desnecessários?

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 (Arrependei-vos, ou nos encontraremos em breve...)
hi·po·cri·si·a
(grego hupokrisía, -as, desempenho de um papel)

substantivo feminino

1. Fingimento de bondade de .ideias ou de opiniões apreciáveis.

2. Devoção fingida.

Palavras relacionadas:
.

"hipocrisia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/hipocrisia [consultado em 30-11-2013].
hi·po·cri·si·a
(grego hupokrisía, -as, desempenho de um papel)

substantivo feminino

1. Fingimento de bondade de .ideias ou de opiniões apreciáveis.

2. Devoção fingida.

Palavras relacionadas:
.

"hipocrisia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/hipocrisia [consultado em 30-11-2013].

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Há alguns dias terminei de tresler o apoteótico Inferno. Impressionado, sempre, com tudo o que acontece lá. Certo de me arrepender, qualquer hora dessas, e me livrar de qualquer motivo ser conduzido àquelas paragens.

Meu propósito era encerrar a releitura da Divina Comédia no Inferno. Só para sentir de novo na pele os infortúnios dos pecadores.

Mas prossegui. Acompanhei Dante e Virgílio na complicada passagem para o Purgatório.


O Purgatório é o lugar onde as almas que se arrependeram expiam seus pecados. É um lugar de imagens belíssimas (o mar ao alvorecer, revoadas de anjos, painéis pintados na rocha pelo próprio Deus, etc - mas é bastante chatinho - repleto de longos discursos morais relativos ao arrependimento.

A penitência no Purgatório dura o tempo em que as almas viveram em pecado, antes de se arrependerem - ou seja - viveu até os 80 anos? Serão mais 80 de expiação. Convenhamos, tempo curtíssimo se tomarmos como parâmetro a Eternidade.

Há ali muitas outras possibilidades de alojamento pós-mortem. Talvez numa próxima pós-tagem. Em breve.

E depois, quem sabe, um ou outro sobressalto que possa vir a ocorrer no Paraíso (que não seja o exagero de anjos, o encontro com um santo a cada esquina ou amor extático e às vezes repetitivo, do poeta por Beatriz).

sábado, 23 de novembro de 2013

waking life


"O hiato que há entre Platão ou Nietzche e o humano mediano é maior do que há entre o chimpanzé e o humano mediano".

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"Existem dois tipos de sofredores: aqueles que sofrem por falta de vida e os que sofrem da abundância excessiva da vida".

(Do filme Waking Life, 2001, Richard Linklater)

domingo, 17 de novembro de 2013

ainda sobre o inferno dantesco - o sétimo círculo

Recapitulando:

No sétimo círculo do inferno expiam aqueles que praticaram violência: homicidas, suicidas e violentos contra deus. Para cada tipo de violência é delimitado um giro, vale ou sessão.

No primeiro giro (banhado pelo Flagetonte, rio de sangue fervente) estão os homicidas.

Os suicidas (violentos contra si mesmos) expiam no segundo giro. É um local sem vida. Árvores secas e sem folhas, onde inúmeras harpias fazem ninhos, são as almas dos suicidas.

No terceiro giro estão 3 categorias de violentos contra deus: os blasfemos, os usurários e os sodomitas. Os habitantes do terceiro giro estão condenados a permanecer em um grande areal ardente, sob constante chuva de fogo.

Os blasfemos recebem o castigo deitados; os usurários, sentados; os sodomitas são obrigados a caminhar sem descanso.

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A título ilustrativo, vale aqui um conceito etimológico (e seu desdobramento) pra lá de caducos:

Sodomita: adj. e s.m. e s.f. Habitante ou natural de Sodoma. / s.m. e s.f. Pessoa que pratica a sodomia. Natural de Sodoma. so·do·mi·ta (latim sodomitae, -arum, do latim Sodoma, -orum, .topônimo [cidade palestiniana]) adjetivo de dois gêneros e substantivo de dois gêneros"sodomita". Sodomia: s.f. Perversão sexual; coito anal; pederastia.
(in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)

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Isso era no ano de 1300. O imaginário católico era bastante restrito quanto ao tema da diversidade sexual. Felizmente, de Dante para a quase metade da segunda década do século XXI as coisas mudaram. Talvez não tão rápido quanto o necessário, mas mudaram. Apesar da corja dos malafaias, dos felicianos, et cetera. Quem diria que o atual Papa gostaria de saber o que pensam os fiéis sobre o aborto, o casamento e a adoção por casais gays?

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O sentido da palavra sodomita perdeu quaisquer resquícios de credibilidade. Passou, de pecado mortal para, no mínimo, mote de programa humorístico politicamente incorreto de TV aberta domingueiro.

Dessa forma, com o fechamento do terceiro giro do sétimo círculo do inferno, o guardião Minos, os centauros e os capetas concursados serão demitidos ou remanejados. Ou aumentarão as estatísticas do desemprego local, nacional e mundial. As atividades daquele setor se encerrarão para sempre. As almas ali remanescentes deverão procurar em 6 meses outro círculo para habitar. Ou deverão adaptar-se à redução de quadro e às estratégias propostas pelos novos gestores.

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Mas não nos iludamos, pecadores! Há ainda que se temer o sexto fosso do círculo oitavo, aquele onde a última moda é a sobrecapa longa com capuz, toda em chumbo e revestida de ouro.

obscuro/brilhante



 Performance de William Ferreira. Mezanino da sala Villa Lobos, Teatro Nacional, Brasília. 1991.



doris lessing


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

set 1981

Ana, Camila, eu e o camburão da PM. Setor Comercial Sul. 1981

estado de coma


Estado de Coma foi meu primeiro livro. De poesias e desenhos. Ambos hoje sofríveis, mas com a força e a vida de um adolescente confuso, perdido e no mínimo corajoso. Isso foi em 1979.

Era uma tiragem ambiciosa: 500 exemplares. Parte do livro foi impressa em mimeógrafo. Outra, clandestina, nas máquinas xerox da empresa onde eu trabalhava como office-boy. A única edição esgotou-se. Alguns exemplares foram vendidos nas mesas do Beirute e do Arabeske. A grande maioria foi distribuída para a multidão de pedestres, camelôs, hippies, travestis, funcionários públicos, vagabundos, etc que circulavam no calçadão da plataforma superior da rodoviária.

O lançamento foi uma quase-performance (naquela época eu nem sabia que isso existia): eu, cabeleira à la Doces Bárbaros, vestido de bata indiana e calçado com sandálias de corda, declamando e lançando folhas dos poemas ao vento, no mirante da Torre de Televisão. Nem é preciso dizer que fui retirado à força, pelo segurança do local, por parecer menos um performer e poeta promissor que um suicida potencial.

Que eu saiba, ainda existem 2 exemplares. Um deles foi colorido à mão e transmitido como herança intelectual ao filho. O outro (descobri outro dia), está com um amigo artista plástico que, à época da publicação, trabalhava como escriturário na mesma empresa onde eu era boy, e que em algum momento foi espelho para a minha trajetória artística.

Mas a grande surpresa foi o bilhete acima. Minha mãe me entregou, emocionadíssima, outro dia. Quase 35 anos depois de escrito. Eu nunca soube dele, ocultado por ela sabe-se lá os motivos. Só elogios, em linguagem simples, coloquial, carinhosa. Não conheci o autor (Antônio Geraldo Ramos Jubé, poeta goiano falecido em 2010) e nem faço ideia de quem seja o destinatário Edison.

A primeira crítica será muito bem guardada. Pois, além do conteúdo histórico-afetivo, foi datilografada por tia Hemicênia, que sempre deu todo o apoio às manifestações canhestras do sobrinho.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

o erro, a mea culpa, a insônia e lewis carroll

Por pândega (meu pai adorava dizer isso) fiz um teste de vocabulário na internet. (em: http://www.interney.net/testes/teste001.php) O teste consiste em acertar o significado de 30 palavras. Fiz, crente que era moleza. Mas errei. 4 palavras - 2 delas difíceis e outras 2 ridículas de fáceis. Mesmo assim fui elogiado na mensagem que acompanhava o resultado:

Parabéns! Você está acima da média e prova com isso que é uma pessoa amante da literatura e que domina muito bem a língua portuguesa. Pessoas como você se expressam bem em qualquer meio e não têm praticamente dificuldade alguma em entender textos considerados eruditos. Continue praticando. Quem sabe um dia você não se torna um filólogo?

Divulguei o resultado nas redes sociais. E me arrependi. Eram erros imperdoáveis para alguém autonomeado escritor. Era dar a cara à tapa, admitir publicamente a fragilidade, a ignorância assim, para deus e o mundo para os 40 e poucos amigos, os 3 seguidores, por brincadeira, falta do que fazer?

Porém era tarde para excluir a postagem. Em poucos minutos havia meia dúzia de curtidas e 2 comentários. O jeito era assumir.

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Dormi mal por causa e do possível escárnio do público. Por causa das 4 palavras : hálux, enxu (as difíceis); carcaça, compilação (as fáceis). Tive pesadelos. Prestes a amanhecer e eu não conseguia grudar os olhos. Até que veio o insight: na forma de uma das epígrafes apostas na Rapunzel, meu primeiro livro. Diálogo entre Humpty Dumpty e Alice:

 - Quando uso uma palavra - disse Humpty Dumpty em tom de escarninho - ela significa exatamente aquilo que eu quero que signifique... nem mais nem menos.
 - A questão - ponderou Alice - é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem coisas diferentes.
 - A questão - replicou Humpty Dumpty - é saber quem manda. É só isso.
 
Só então eu descansei. Juntei as pestanas, como também dizia meu pai. Sob os auspícios do definitivo (e doido) Humpty Dumpty. Que provavelmente tem mais o que fazer além de se preocupar com o que os outros pensam de si ou responder testes de conhecimento vocabular online.

domingo, 3 de novembro de 2013

diário gerúndio de amor & de paixão

folheando david hockney & te enxergando em cada imagem. sentindo a tua ausência. esperando ansioso a mensagem que não vem. perdendo o sono. antecipando cataclismos interiores. pensando em nós dois numa banheira de espuma. fazendo declarações de amor desnecessárias. cortando os pulsos com uma faca de plástico. ouvindo ângela maria & vovó rita lee.

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tropeçando nas 16 direções da rosa-dos-ventos. acendendo incenso pelos 4 cantos. fumando todos os cigarros da casa inclusive o charuto-oferenda aos pés de ganesha. bebendo a pinga da garrafada. rodopiando no centro da estrela de 7 pontas. gargalhando. indo com deus e nossa senhora & o capeta atrás tocando a viola. engolindo em seco. pedindo aos deuses que você venha nas próximas 24 horas. ouvindo roberto carlos & liga-tripa.

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lendo roberto piva em voz alta até a gata cochilar. lendo sobre sonhos. sonhando com escrever. pesquisando sobre a vida dos amantes quase ilustres ou pouco mais que anônimos. tocando acordeão. controlando a acidez estomacal. evitando a flatulência & a turbulência. escovando os dentes e empastando o rosto com creme antirrugas. desejando sonhar com você. ouvindo shirley horn.

sábado, 2 de novembro de 2013

(2 trechos para sempre perdidos)

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Paralelo ao reinado das mulheres na cozinha havia o desgoverno das crianças e do cachorro, desde muito cedo até bem tarde da noite, em todas as partes da casa (só nos era proibido o quarto dos pais), no jardim, entre as galinhas, com os pombos, o cabrito no quintal, a leitoa no chiqueiro improvisado, em volta dos pés de tangerina, na goiabeira, a gameleira em frente ao portão, no muro alto dos fundos ou na mureta baixa da rua, nas casas dos vizinhos.

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Livres da escola, dos cadernos e dos livros, éramos completamente soltos. Comíamos aos grupos, depois das mães, tias, agregadas se esgoelarem de tanto nos chamar. Havia tombos, machucados, brigas, amores secretos e até segurar, fortuito, a mão da prima ou do primo. Havia dois tonéis de metal, quase da nossa altura (acho que eram usados como reservatórios de combustível), cheios de água, onde, em fila, tomávamos banho. Dormíamos todos em colchões espalhados pela sala, os meninos e meninas da roça, os primos e primas maiores e os menores, os irmãos e os amigos que se juntavam à festa.

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divina comédia - inferno - sétimo círculo (2)

David Carroll and Daniel Heald. Em: http://www.tabula-rasa.info/Horror/Inferno.html
A Divina Comédia foi escrita a partir de conceitos filosóficos avançados para o século XIII. É estruturada em elementos do imaginário cristão medieval. O Inferno e está repleto de personagens e elementos da mitologia grega. Para atravessar a fantástica geografia do inferno e compartilhar com Dante e Virgílio da riqueza das imagens e símbolos é necessário abstrair daqueles conceitos primitivos do pecado e da culpa cristãos e considerar pecados e pecadores como espelhos das nossas falhas e defeitos, demasiado humanos.

A entrada do inferno dantesco era próxima a Jerusalém, onde Lúcifer caiu quando foi expulso do céu. A queda abriu um enorme buraco afunilado, formando 9 círculos (uma espécie de vales ou degraus), sendo o último deles no centro do planeta onde Lúcifer está enterrado, de cabeça para baixo, mastigando por toda a eternidade Judas, Brutus e Cássio, os 3 traidores mais famosos de todos os tempos.

Transposto o portal de entrada do inferno (onde encontra-se inscrito: “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”), chega-se a uma espécie de vestíbulo, onde os tíbios, os ignavos, os covardes e os indecisos

Vegetam como os sáurios indolentes;
eu os via desnudos, aguilhoados
por vespas e por moscas renitentes.


Então chega-se às margens do rio Aqueronte, onde aguarda-se o barqueiro Caronte para a travessia.

O primeiro círculo chama-se Limbo. Nele habitam aqueles que não foram batizados e os que nasceram antes de Cristo. Ali encontram-se os filósofos Sócrates, Platão, Demócrito, Empédocles, Anaxágoras e tantos outros; os poetas Homero, Ovídio, Lucano, Horácio e o próprio Virgílio, o guia de Dante naquelas paragens.

Do segundo ao quinto círculo encontram-se os pecadores cujos pecados foram cometidos sem culpa, pela inconsciência humana. No segundo círculo são punidos os luxuriosos, jogados num turbilhão de vento violento. No terceiro, o cão tricéfalo Cérbero espanca os gulosos jogados na lama sob uma chuva incandescente. O quarto círculo é defendido por Plutão. Ali são punidos os avaros e pródigos, condenados a empurrar enormes pesos. Prosseguindo a descida chega-se ao rio Estige, de sangue fervente, que banha o quinto círculo. Os irados estão nele mergulhados. No sexto círculo está a cidade de Dite. Ela divide os pecados sem culpa e os realizados com consciência. Ali são queimados os hereges, dentro de tumbas desprovidas de tampas.

O sétimo círculo é guardado pelo Minotauro de Creta. É banhado pelo rio Flegetonte. O sétimo círculo é dividido em três vales, onde estão os pecadores por violência. No primeiro vale estão os homicidas, no segundo os suicidas e no terceiro os violentos contra Deus.

O oitavo círculo é onde são punidos os fraudulentos. Ele é dividido em dez fossos, ligados por meio de pontes. São eles: 1) os rufiões e sedutores, açoitados pelos demônios; 2) os aduladores mergulhados em fezes; 3) os simoníacos (que traficaram com as coisas sagradas) enterrados de cabeça para baixo, os pés para fora, envolvidos por chamas; 4) os mágicos, adivinhos e outros embusteiros e intrujões do mesmo gênero, condenados a não olhar para a frente, caminhando com o rosto virado para as costas; 5) os corruptos, prevaricadores e trapaceiros, mergulhados em betume fervente; 6) os hipócritas, vestindo  pesadas capas de chumbo revestidas de ouro; 7) os ladrões picados por enormes serpentes; 8) os maus conselheiros ou fraudulentos imersos em chamas; 9) os promotores de cismas religiosos, os semeadores de ódios, divisões e discórdia entre pessoas e povos, sendo mutilados por terríveis golpes de espada; e  por fim 10), os falsários, subdivididos em alquimistas (falsificaram metais preciosos) - cobertos de lepra, os impostores, tomados de loucura, os falsificadores de dinheiro, atacados por hidropsia e os de palavra - consumidos pela febre.

Na parte mais funda está o nono círculo, onde são punidos os traidores.Ali desaguam os rios Estige, Flegetonte e Aqueronte, formando o rio Cocito. É um local frio ao extremo. O nono círculo é dividido em quatro esferas: a Caína (onde estão os traidores do próprio sangue), Antenora (para os traidores da pátria), a Ptoloméia (os traidores dos amigos) e Judeca (para os que atraiçoaram os chefes ou benfeitores). Na Judeca encontra-se Lúcifer, como já dito, aprisionado da cintura para baixo.

Nas próximas postagens: sobre o terceiro vale do sétimo círculo e o sexto fosso  do círculo oitavo.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

diário gerúndio em belo horizonte

digerindo imoralidade & degenerescência senil & síndrome do pânico & outras cositas más em doses homeopáticas até o fim da existência / contando os segundos para a derrocada final / viajando aos trancos e barrancos pela estrada que vai dar na imortalidade da alma / aceitando a transformação da carne / acreditando na transcendência & na evolução do espírito

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faltando um nanossegundo para transpor o portal da realidade paralela / o umbral / as mônadas / as moradas do ser / perguntando se a eternidade já é na próxima esquina / implorando valei-me giordano bruno / valei-me kierkegaard / valei-me leibniz nesse momento de provação / porque kant é meio árduo

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corujas cegas do pântano da china / ratazanas albinas do banhado / trajetória monitorada dos leões marinhos / abutres & hienas incandescidos / elefantes famintos devastando as plantações de cânhamo / tartarugas geneticamente modificadas / narinas tipo snorkel / peixe-cabeça-de-cobra / existe vida nos salares a mais de mil metros de altitude / hipogrifos // serpes bicéfalas / mulas acéfalas lançando chamas pelas ventas / cabeça de dinossauro pança de mamute / rãs comedoras de tomilho / dragões lagartos sob a lança de são jorge / dominados pelos pés sagrados de isabel / vacas / veados / zebras / antílopes / gnus / guepardos na savana / fornicando como coelhos nos intervalos de animal planet

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lendo sutras / lendo sobre alarico e a queda do império romano / incorporando mal roberto piva / ouvindo aretha franklin enquanto o vento & a chuva fustigam os vidros da janela /  trovejando no coração & relampejando na alma