sábado, 30 de outubro de 2010

Notícias de Recife

Teve materiazinha de jornal sobre o lançamento das Histórias Desagradáveis em Recife. Sempre o inusitado! Leiam no link ao lado - Matérias publicadas.

domingo, 17 de outubro de 2010

Extra! Extra!

 Manchete de capa do jornal Aqui-DF de hoje (17/10). Adorei! Leiam a íntegra da matéria clicando no link ao lado - Matérias publicadas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia do Professor


Professor Jirafales ou Girafales?
Pollyanna me sugeriu escrever sobre professores. Nada mais justo homenageá-los em seu dia (ah, as efemérides!), ela argumentou. Afinal, além de eu ter sido um, estou cercado deles – mãe, irmão, tias, primas, namorado e 95% dos amigos e amigas ensinam ou ensinaram em algum momento de suas vidas. Empolgada previamente com o sucesso do post, Pollyanna me ajudou a resgatar lembranças: daquelas que, além de dar aula, desempenhavam o papel de segundas mães na infância: D. Edmar, morena, batom e flor vermelha nos cabelos muito pretos; D. Maria dos Reis, tão boazinha, irmã do Zé Barbeiro. D. Zélia, da oitava série, que não conseguiu enfiar conjugação de verbos na minha desvairada cabecinha adolescente; Joana, que me fez ter pavor respeitoso por química; Guadalupe e Cristina, que me ensinaram a ordenar as ideias no texto; Helena, das oficinas de teatro na universidade; o quarteto Kathleen, Stella, Lígia e Grace das artes plásticas. Por fim eles, uns mais paternais, outros objetos de desejo: Flávio, tão gato que meu coração batia descontrolado enquanto aprendia, num passe de mágica, equação de segundo e terceiro graus, matriz, exponencial, até rudimentos de geometria; Daldegan, que obrigava a gente a escrever uma redação por dia; Milton, saudoso, que apresentou Barthes; Douglas a pintar aquarelas, etc. Por mais que Pollyanna se esforçasse, os picaretas, os embromadores, os sem-paciência, desses eu não lembrei. Ela mesma concluiu atravessado: talvez porque mesmo esses tenham te ensinado algo – só professor que ama o que faz permanece na memória dos seus alunos eternos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O telefonema


Ele apaixonou-se por Ela em uma reunião de trabalho. Já a tinha visto antes, andando de patins, biquíni colorido, viseira, fone de ouvido, no parque. Exultou quando soube que trabalhariam no mesmo projeto. Houve outras reuniões. Muitas. E um coquetel para comemorar o fim delas. Serviam champanhe. Ele tomou várias taças.
Ela aproximou-se. Charmosa como uma francesa. Linda como uma atriz italiana. Ardente como uma dançarina de tango. Conversaram banalidades, trabalho. O assunto acabou, separaram-se, outras rodas, o mesmo papo. Mas mesmo afastados, de qualquer ponto onde estavam, como ímãs, os olhares de Ele e Ela atraíam-se. Até a hora de ir embora.
Ele estava certo de que Ela tinha emitido sinais explícitos.Que também estava interessada. Era muita areia para o caminhãozinho Mercedes-Benz ano/modelo 66?, Ele se perguntava, no carro, cantando junto com o rádio no último volume: ...aí eu te prometo te deixar mole... mole... mole...
Quem sabe a galera do Além estivesse disposta a mexer os pauzinhos milagrosos para oferecer a Ele, um reles, porém interessante mortal, a namorada dos sonhos? Nem dormiu direito. Durante o dia seguinte, no trabalho, o pensamento fixo em Ela. Até de noite.
Jogou o tarô na internet. Saiu o Pajem de Espadas, quadragésimo sétimo arcano. Alerta vermelho: pensar dez vezes antes de dizer algo, distinguir entre o que pode ser falado e o que deve ser guardado, resistir à tentação de colocar a boca no trombone, a palavra de prata, o silêncio de ouro.
Mas Ele estava tão angustiado que desconsiderou o conselho esotérico. Precisava agir. Urgente. Graças à terapia (coragem!), à carência (vire-se!) e a paixão cega (o amor remove muralhas!), Dessa vez Ele não deixaria a oportunidade passar. Era fácil. Era só telefonar.
Decorou até um texto, leve, divertido, perfeito para a situação. Confiante de que o resto do papo fluiria, certo de que o coração mais petrificado não resistiria a uma cantada tão bem humorada:
- ... estava procurando uma desculpa para te telefonar. Não encontrei, mas resolvi ligar assim mesmo..."
Ligou a primeira vez. Ela estava no almoço. Ligou de novo mais tarde. Ela atendeu.
Foi horrível.
Ele engasgou, excesso de timidez. O texto decorado saiu em só fragmentos ininteligíveis, golfadas, meias palavras, meias frases. Os segundos no celular pareceram horas. Ela demorou a entender o que se passava.
Não havia como voltar atrás, abortar o plano. Só restava a Ele pulverizar o mico. Respirou fundo. Contou até três. Retomou o controle do caminhãozinho sem freio na ladeira, jogou a pá de cal:
- Queria conversar. Que horas você sai daí?
Apesar de incisiva, a emenda foi pior. Ela desconversou. Saía às sete. Mas não ia dar, estava enroladíssima. Ele raciocinava lento. Faltaram palavras pra arrematar. Balbuciou. Palavras lacônicas, inconclusivas, imbecis:
- Então fica pra outra hora.
Ela foi educada. Coitado dele, tão tímido... Não espezinhou. Não bateu o telefone (sinal de nenhuma esperança); não disse quando Ele deveria ligar de novo (sinal de quase nenhuma esperança); mas deixou no ar a palavra hoje (luz débil no fim do túnel).
Hoje não, mas amanhã, quem sabe, ele ainda murmurou. Ela já tinha desligado. Ele Esperou passar a taquicardia, a falta de ar, sem saber onde enfiar o celular. Se tivesse uma garrafinha de uísque no bolso, teria tomado a metade.
Depois da tormenta veio o alívio. E a frustração. Ele sentiu-se aliviado por ter ligado, resolvido a pendência, resistido à procrastinação. Mesmo com o resultado funesto. E frustrado pela ausência de qualquer hipótese de desfecho, final feliz. Ele não teria motivo ou desculpa para ligar de novo.
Fantasiou sobre a maneira como Ela tinha reagido ao atender o telefone:
1. Ela atendeu, desligou e comentou com a colega do lado, entre gargalhadas, que o tiozinho tinha pirado de vez e cinco minutos depois esqueceu completamente o assunto;
2. Ela atendeu, emocionou-se (por isso não conseguiu falar) e estaria ansiosa por receber outra ligação de Ele marcando o encontro.
Ou nada disso, mania de Ele fantasiar. Ele riu sozinho diante do Pajem de Espadas na tela do computador. O chefe o abordou:
- Você está se sentindo bem?
Sim, Ele estava. Há tempos não se sentia tão bem. Ainda teve a cara de pau de perguntar ao chefe quando marcariam a próxima reunião com Ela para avaliar os resultados da implantação do projeto. A vida era assim mesmo, e a esperança de Ele era dura na queda.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dia das crianças 2 - um filme para toda a família

Dia das crianças

Como presente aos leitores e marketing promocional das Histórias Desagradáveis nesta data especial, foram publicados trechos dos contos "Toni" e "Mariazinha". É só clicar nos links da coluna ao lado... bom proveito e feliz dia das crianças a todos...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Catira


Preta como tição. Lustrosa, magricela, baixinha, musculosa. Espichada, cara de fuinha. Irascível, fleumática, nervosa. Ao mesmo tempo derretia-se por carinho. Pulava no colo das pessoas na sala de tevê, deitava-se de barriga pra cima para ser coçada. Mijava-se de pura alegria. O rabo de vírgula sangrava de tanto bater no chão, nas paredes quando chegava alguém que gostava.
Assente e eficiente caçadora de lagartixas. Feroz como um grifo marombado, latia com qualquer ser vivente que passasse do outro lado do portão, bípede ou quadrúpede, coelho, sabiá, mico, gato, carteiro, lixeiro, vizinho, recenseador. Ai de quem tentasse pegá-la: mordida certa, de arrancar pedaço. Reinava na casa. Até as cadelas grandes tinham-lhe respeito.
Pois bem. Um belo dia descobriu-se-lhe a doença. Fatal. Não daquelas fulminantes, que matavam de uma hora pra outra, sem sofrimento, não. Doença lenta. Corrosiva, solapante, dia a dia, gota a gota. Gânglios, inflamações, perebas, comprometimento dos órgãos vitais, queda de pelo.
A veterinária deu esperanças: remédio importado, clandestino, milagroso. 85% de chances. Dispendioso, trabalhoso de ministrar, e ainda acompanhado de dez outras providências. Encomendou-se o tal remédio. Tomaram-se as devidas providências secundárias. Mas...
Os sintomas recrudesceram. Não é preciso entrar em detalhes. Decidiu-se: eutanásia. Abreviar a dor dela, dos outros.
Entrou no carro faceira. Pulou no colo do motorista, lambeu o vento da janela aberta. De vez em quando olhava agradecida pelo passeio, inusitado, plena tarde de dia útil. Desceu animada, farejou as rodas dos carros no estacionamento, fez xixi demarcatório. Só caiu na real quando entrou na sala de espera da clínica.
Na fila, um filhote de pitbull cinzento. Um viralatas cujas patas traseiras tinham sido substituídas por sistema de rodas. Um gato invisível no fundo da gaiola de transporte. Ela começou a tremer. Logo quem, a feroz, destemida que avançava na dona, que punha moral no terreiro, que espantava os intrusos, com medo de um filhote, de um aleijado, de uma gata sarnenta? Ou já estaria sentindo a presença invisível Dele, o Ceifador, próxima?
Continuou tremendo enquanto a ficha era preenchida, o cheque. Nem relaxou enquanto coçavam-lhe as orelhas, a barriguinha. Por fim a moça simpática da recepção colocou-a no colo para a despedida. Melhor não acompanhar os procedimentos. Seria indolor. Anestesia, estado de coma, e acordar no paraíso dos cães.
Foi sem olhar para trás, sem olhar de despedida. Subiu as escadas no colo da estranha. Para ela o fim já tinha começado fazia tempo. Nem ouviu as lágrimas descontroladas pingando chochas no piso de cerâmica da clínica, os adeuses, as palavras de consolo do pessoal da fila, do filhote de pitbull, da gata oculta, do viralatas paraplégico. Deixou um buraco, fundo, preto, comprido, no resto da tarde. Que se prolongou noite adentro. De madrugada ainda ouviu-se, pela última vez, seus passinhos de vidro  pela estrada de ladrilhos amarelos, a caminho da terra do nunca.

Adiamento


Surpresa! Depois de ter divulgado para Deus e o Mundo, recebi agora pouco a notícia do adiamento do evento. Será no sábado. Polyanna Moça me consolou: "não se irrite, o motivo é justo". Ela soube que Ana Maria Miranda me substituirá na sexta. Agradeço aos fiéis leitores que se reprogramarão e se esforçarão ao máximo para se despencarem de casa, em pleno sábado à noite para prestigiar este que vos escreve...

Triunfo da morte - Pieter Brueghel (1562)